Temos aqui no
Alentejo, uma alma coletiva de “cultivo de sofrimento”, provavelmente com
raízes históricas e culturais, na medida em que em termos de território, este
não nos favorece a vida, quer porque as terras não são abundantemente férteis,
quer porque o clima é de amplitudes extremas e tudo isto exigiu sempre de quem
vive uma forma sofrida de adaptação hábil e indolente…o que carateriza também
as relações entre uns e outros.
Tem-se por aqui o
hábito de se dizer “…a vida é feita de ralações…”, mas também se usa o
confortável “…não te rales…”
Relações embebidas
de vinho preferencialmente tinto, salpicadas de traições o quanto baste,
envolvidas com o açúcar ou o sal, das opiniões do coletivo, que alimentam um
superego fortíssimo.
As relações de
amizade, caraterizadas há 40 anos, por se alimentarem entre as ajudas entre
vizinhança e de convívios nas tabernas, onde se bebia, cantava e se discutia
tanto a vida da vizinhança como a política.
Hoje em dia crescem
na sua maioria, nos locais profissionais e recreativo-culturais.
Qual será a diferença
entre elas?
Existe semelhança no
fato das pessoas estarem com quem têm um interesse, uma necessidade,
distingue-as a duração, a sua diversidade e mudança.
As relações, são
importantes pois permitem a intimidade, quer social, quer emocional, quer
sexual, quer intelectual, quer lúdica.
A pessoa é feliz, se
sente a intimidade na sua vida. Esta permite-lhe sentir a sua existência para
si e para os outros, fá-lo sentir validado.
A
pessoa isolada, sem relações de qualquer tipo, torna-se estranha de si própria,
tem mais dificuldade em realizar a sua existência, a sua confirmação, a
confrontação com o que não é dela, com o que é diferente.
Qualquer
um precisa de um grupo de pertença, ou de não pertença.
Mesmo
o narcísico, tem que ter público…
Como
e a quem é que vai mostrar que é o “melhor”? Se não tiver assistência para o
aplaudir e indivíduos para inferiorizar?
Ah! pois é, acontece
que todos temos “ralações” , nas
relações, enumerando-as, aqui vão:
- O chefe, não se
relaciona bem comigo.
- O colega de trabalho
só se ouve a si próprio.
- O não se conseguir
afirmar junto das pessoas mais significativas…
- O cultivar de um poder
informal, quer no campo profissional, quer na família, o qual é manipulador das
relações .
- Um filho ser mais
protegido do que outro.
- Nas relações entre
irmãos, um que é influenciador dos outros, não no sentido da harmonia.
- No grupo de
amigos, o haver um que sempre se faz ouvir, ultrapassando outros.
- No casal, um dos
elementos sente-se incomodado pois fica mais na sombra.
- Na escola, o mais
hábil em termos comunicativos conduz a turma, nem sempre no bom sentido
- O relacionar-se
desequilibradamente com o seu corpo…
Nas relações muitos
adotam a atitude “não te rales”, a qual serve como armadura ou também como uma
forma de contornar manipuladores, já que a indiferença, constitui uma das
melhores armas perante este último tipo de indivíduos.
As diferentes
modalidades de existir nos relacionamentos, são diferenças que temos o direito
de viver sem nos desvalorizarmos.
No decorrer da vida
de cada um, vivenciam-se acontecimentos diversos, a forma como nos relacionamos
com eles, é o que nos define…
Relacionamo-nos com muitas
“ralações” ou com um “não te rales”, o quanto baste.
A escolha está em nós.