domingo, 16 de fevereiro de 2020

RELAÇÕES OU RALAÇÕES

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Temos aqui no Alentejo, uma alma coletiva de “cultivo de sofrimento”, provavelmente com raízes históricas e culturais, na medida em que em termos de território, este não nos favorece a vida, quer porque as terras não são abundantemente férteis, quer porque o clima é de amplitudes extremas e tudo isto exigiu sempre de quem vive uma forma sofrida de adaptação hábil e indolente…o que carateriza também as relações entre uns e outros.
Tem-se por aqui o hábito de se dizer “…a vida é feita de ralações…”, mas também se usa o confortável “…não te rales…”
Relações embebidas de vinho preferencialmente tinto, salpicadas de traições o quanto baste, envolvidas com o açúcar ou o sal, das opiniões do coletivo, que alimentam um superego fortíssimo.
As relações de amizade, caraterizadas há 40 anos, por se alimentarem entre as ajudas entre vizinhança e de convívios nas tabernas, onde se bebia, cantava e se discutia tanto a vida da vizinhança como a política.
Hoje em dia crescem na sua maioria, nos locais profissionais e recreativo-culturais.
Qual será a diferença entre elas?
Existe semelhança no fato das pessoas estarem com quem têm um interesse, uma necessidade, distingue-as a duração, a sua diversidade e mudança.
As relações, são importantes pois permitem a intimidade, quer social, quer emocional, quer sexual, quer intelectual, quer lúdica.
A pessoa é feliz, se sente a intimidade na sua vida. Esta permite-lhe sentir a sua existência para si e para os outros, fá-lo sentir validado.
A pessoa isolada, sem relações de qualquer tipo, torna-se estranha de si própria, tem mais dificuldade em realizar a sua existência, a sua confirmação, a confrontação com o que não é dela, com o que é diferente.
Qualquer um precisa de um grupo de pertença, ou de não pertença.
Mesmo o narcísico, tem que ter público…
Como e a quem é que vai mostrar que é o “melhor”? Se não tiver assistência para o aplaudir e indivíduos para inferiorizar?
Ah! pois é, acontece que todos  temos “ralações” , nas relações, enumerando-as, aqui vão:
- O chefe, não se relaciona bem comigo.
- O colega de trabalho só se ouve a si próprio.
- O não se conseguir afirmar junto das pessoas mais significativas…
- O cultivar de um poder informal, quer no campo profissional, quer na família, o qual é manipulador das relações .
- Um filho ser mais protegido do que outro.
- Nas relações entre irmãos, um que é influenciador dos outros, não no sentido da harmonia.
- No grupo de amigos, o haver um que sempre se faz ouvir, ultrapassando outros.
- No casal, um dos elementos sente-se incomodado pois fica mais na sombra.
- Na escola, o mais hábil em termos comunicativos conduz a turma, nem sempre no bom sentido
- O relacionar-se desequilibradamente com o seu corpo…
Nas relações muitos adotam a atitude “não te rales”, a qual serve como armadura ou também como uma forma de contornar manipuladores, já que a indiferença, constitui uma das melhores armas perante este último tipo de indivíduos.
As diferentes modalidades de existir nos relacionamentos, são diferenças que temos o direito de viver sem nos desvalorizarmos.
No decorrer da vida de cada um, vivenciam-se acontecimentos diversos, a forma como nos relacionamos com eles, é o que nos define…
Relacionamo-nos com muitas “ralações” ou com um “não te rales”, o quanto baste.
A escolha está em nós.